Ora boas minhas máquinas de guerra!!!
Xiiii olha agora este gajo, há tanto tempo que na publica nada e agora que
é o MIUT vem para aqui tentar escrever qualquer coisa e já tarde que já passou duas semanas…lolol
Atenção que isto tem um monte paleio por aqui abaixo, por isso quem não tem pachorra de ler mais vale fechar logo a página…
Atenção que isto tem um monte paleio por aqui abaixo, por isso quem não tem pachorra de ler mais vale fechar logo a página…
É verdade malta, já há muito que não escrevia por aqui nada mas também que
melhor prova para voltar a escrever que a prova rainha da nossa ilha o MADEIRA ISLAND
ULTRA TRAIL.
Devo confessar que das 4 provas internacionais que temos não é a
minha favorita, o USM para mim tem qualquer coisa que mexe mais
comigo mas, adiante.
Falando um pouco ligeiramente sobre esta grandiosa prova, a mesma é
organizada pelo Clube de Montanha do Funchal, pertence ao Ultra-Trail® World Tour, tem 115km com 7200 d+ (na
sua prova maior), começa em Porto Moniz acabando em Machico praticamente
atravessando a ilha com uns empenos engraçados pelo meio da mesma para dar cabo
de nós e além disso tudo é uma prova do CARAÇAS!!! que já há dois anos em que
mal abre as inscrições é uma azáfama de malta a inscrever-se, este ano no mesmo
dia em que abriram, fecharam!!!! Nas 4 provas!!! WTF!!! Foram precisas apenas
17 horas para isto acontecer. Pois é, esta prova e mesmo com a organização a
tentar todos os anos aumentar ligeiramente o número de vagas a mesma esgota
sempre e o que impressiona é que a estrangeirada quer vir cá toda!!!
Pois bem, agora falemos da minha pessoa nesta loucura que também começou no
dia da inscrição da prova (já em Outubro 2018).
E a partir daí começa a luta... Vá, não começa aí a sério, serio...
Os treinos mais específicos só começaram para esta prova já em 2019 (e
ainda bem) mas lá está, o restante tempo de treino também não pode ser
descurado sendo também muito importante.
Conversei com o mister e disse que gostava de fazer aquilo em 17h, achei
que era capaz e que estaria dentro dos meus limites, ele concordou também e
siga pra frente.
Agora até 27 de Abril é treinar...
Esta é a parte mais foleira e mais dura em todos os sentidos. A prova? A prova é "peanuts" comparado com tudo o que passas até lá.
Treinar,
treinar e treinar, digo isto, e não pensem que era uma coisa do outro mundo,
não, o problema é que para além de treinar, existe a vida pessoal (com mulher e
dois filhos) e a vida profissional e tudo tem que ser bem conjugado para
conseguir funcionar minimamente principalmente na parte da vida pessoal, os
nossos entes mais queridos às vezes tem que sacrificar um pouco da vida deles
para nós podermos fazer qualquer coisa.
E depois é o resto de pequenos contratempos que surgem à maior parte de
nós, pequenas/grandes lesões, dias em que por mais que te esforces não existe
mesmo vaga para treinar e desejas que o dia tivesse 25h, o clima, entre outras
tantas.
As últimas semanas são um desespero, desejando que chegue o mais rapidamente
à prova, não por ter aquela vontade de começar mas sim pelo facto de saber que
os treinos acabaram. hehehe
Bom e lá chega o tão almejado dia, saio de serviço às 09h00 e venho para
casa acabar de preparar tudo o que faltava, ainda deu para descansar um cadito
à tarde.
Chega a hora da verdade e eu por volta das 23 já tava no Porto Moniz pronto
para a loucura. Ventinho do caraças (outra palavra dita no momento) penso eu
mal saio do carro. Encontro-me com o meu primo Décio que também iria fazer a
prova e com a minha equipa de apoio/assistência, as Galinhas (Filipe e
Cassiano), fotos pá aqui e pá acolá para mais tarde recordar e bora pá caixa.
Foto da praxe Da Esq. para a Dir: Manuel Faria, Eu, Sidónio Freitas, Décio Carreira, Valter Viveiros, Cassiano Figueira. |
Encontro muita malta amiga, desejamo-nos boa sorte uns aos outros e siga.
00:00 e lá arrancamos, tento chegar o mais rapidamente possível à parte da
frente da corrida, isto era muito importante, pois ao perder muito tempo aqui a
descer para a ribeira da janela não daria para ultrapassar.
A primeira parte da subida antes de começarmos a descer para a Ribeira da
Janela, pelo menos aqueles 200/300m iniciais foram nostálgicos, corri
praticamente lado a lado com alguns dos melhores do mundo, niiiccceee…
Descida para a Ribeira da Janela, ainda não tinha começado a descer e já se
ouve as pessoas lá embaixo na euforia, é a zona da loucura, depressa já tou na
ribeira e começo a passar por aquele "túnel" de pessoal, top, vou
cumprimentando as pessoas à medida que passo mas tudo o que é bom acaba
depressa e esta era a parte boa do MIUT, de 17h42m de prova que tive, foram 5m
bons agora já só falta o resto, não vamos dizer mau, menos bom vá… Lolol
Toca a subir até ao Fanal, subida rápida e certinha até lá acima sem perder
muito tempo pois abrandar muito com o fresquinho que tava na era opção.
Primeira grande descida da prova e alteração do percurso, descida do
caminho das voltas, na minha opinião foi uma alteração para pior, descida mais
longa, parecia que nunca mais chegava lá abaixo para depois ainda ter que rolar
naquele alcatrão.
Aqui paro no abastecimento encho a flask, como qualquer coisa e arranco
para a subida do empeno, sinceramente não tava a espera já aqui de apanhar a 1a
dificuldade, princípios de cãibras na perna esquerda… 🤔 estranho, tinha tratado bem desta
situação no pré-prova mas pronto nada a fazer, reduzi a abertura da passada e
siga, tá claro que fez-me perder um bocado de tempo mas assim consegui chegar
mais solto à parte do estradão que ainda é preciso fazer aos estanquinhos e
aqui pude rolar até lá.
Estanquinhos… Rapidamente vou ter com o Cassiano, assistência rápida, aqui
bebo também um cadito de café para aquecer o corpo (bem que não sentia muito
frio), e lá vou eu novamente embora estradão abaixo, em muito do estradão e nem
com a lanterna no mínimo via a ponta de um corno, nevoeiro serrado mesmo, nunca
pensei em ter que abrandar em corrida por causa de nevoeiro. Entro no trilho e
rapidamente apanho um atleta que a descer ia um pouco mais receoso e quando dou
por mim já estou a descer a escadaria do PR17, aí apanho um tuga (Pedro Rocha)
que depois da prova vim a saber que era primo de um camarada de serviço meu
quando estive no continente, o mundo é pequeno ;).
Fui com este companheiro até ao abastecimento do Rosário, aqui foi sempre a
despachar que queria era chegar à Encumeada, atenção para quem não conhece esta
secção da prova não pense que a mesma é fácil… Depois de rolar um bocado em
estradão ainda é preciso subir escadas e mais escadas para chegar à Encumeada.
Mesmo assim ainda sou passado por dois nessa subida, esta estrangeirada tem
cá um power.
Uh! uh! abastecimento da encumeada, chego lá ainda a amanhecer, sentia-me
bem, as câimbras já não chateavam portanto tudo nice. Novamente sempre rápido o
abastecimento, e siga, esta secção é para mim a que gosto menos do MIUT,
primeiramente pela subida do túnel depois apanhar aquela secção toda rolante
com sobe e desce, voltar a fazer uma subida infernal até às relvinhas para
depois fazer uma descida técnica, inclinada e dura até ao Curral. Acho esta
secção uma “parte canelas do caraças”. E isso viu-se no tempo que demorei a
fazê-la, aqui ainda sou passado novamente por alguns atletas mas lá consegui
enfrentar aquele demónio.
Dois dos meus 3 amores à minha espera. |
Ao começar a descida para o curral o sol já se fazia notar e já mostrava que ia ser uma manhã bem quentinha. Chegado ao curral foi onde tive o abastecimento mais longo, sentei-me um cadito pela primeira vez, tiro roupa a montes, bebo muita água e como uma taçada de arroz.
Agora seria a doer, saio do abastecimento com o colega de prova Nelson
Vieira, na parte exterior do abastecimento para além do mister tinha a mulher e
filhota com amigos à espera. Sobem comigo a zona do pavilhão, falo um pouco com
cada um deles, beijinho à Tânia, digo que estou bem e lá vou eu.
O mister diz-me para ir com o Nelson pois esta secção era mais fácil ir a
dois.
E lá fomos nós, conversamos um pouco sobre a prova de cada um, disse-lhe
que ia guardar um cadito de energia para o Larano para fazer aquilo a trote
entre outras coisas... 1km depois de entrarmos já no trilho que nos levava ao
Pico Ruivo, aí abrando um pouco, digo ao Nelson pa passar pois ia trincar algo
e aí passado uns segundos… POW!!! Levo como que uma parede em cima, o corpo do
nada fica sem energia, o Nelson rapidamente desaparece a subir, tento ainda
fazer um esforço e nada, não tinha mesmo energia nenhuma, até levantar os
braços para trabalhar com os bastões custava, as pernas de repente começaram a
doer e eu a pensar bom Cró já foste!!!
Lá vou eu subindo mais um pouco e vejo o Bruno Dantas a descer, pergunto se
tava tudo bem e ele diz-me que não era o dia dele, acontece.
Bom, eu vendo isto e estando como estava pensei para mim será que também
não era o meu dia? Naquela situação e se a mesma se mantivesse ir até Machico
assim ia ser um martírio. Mas já que estava ali para trás não vou!! Tinha
decidido que ia ver como o corpo se comportava até ao Ruivo a ver se a situação
se mantinha e então depois decidia melhor o que fazer. E lá fui eu, que subida
mais penosa, mesmo depois chegando à parte mais rolante não ia, nem a descer se
conseguia fazer trote, entretanto apanho o Jorge Louro em sentido contrário,
vinha a apoiar a malta e a treinar, dá-me umas palavras de incentivo e diz que
tou nos 10 melhores tugas, digo-lhe que tá mau e muito mau mesmo e lá continuo.
Mais à frente disse para o meu “Tico e Teco” bem Cró, ou vai ou racha,
perdido por 100 perdido por 1000, pego numa ampola de magnésio, brufen,
um gel e bumba tudo de uma vez goela abaixo, e bebo meia flask de água de
seguida para empurrar. Ou isto vai dar um boost ou então estoira de vez... Ou
então, ia dar no cu…!!!! Ahahaha
E não é que passado 10m parece que as coisas começam a compor-se, já começo
na subida final para o Ruivo com mais energia. Chego lá já quase bem, mas
triste pois os objectivos a que me tinha proposto não iriam provavelmente ser
cumpridos. Saio do abastecimento contente por ter visto caras amigas, não fosse
ele “comandado” pela amiga Marlene mas também lá estava os seus irmãos como voluntários.
Saio de lá pronto para atacar bem depressa esta secção e lá vou eu, entre o
Ruivo e o Areeiro, é o trilho mais maluco que se pode passar na prova,
constante sobe e desce com paisagens de cortar a respiração desde que esteja
bom tempo, no dia de prova não houve tempo para olhar para nada, tava como os
burros quando levam aquelas palas para olhar só para a frente…
No fim da grande subida para o areeiro tava o Cassiano à espera para vir
puxar por mim, o Marco (irmão da Marlene) que estava no abastecimento do
Ruivo tinha ligado para ele a dizer que não tinha saído muito bem de lá e então
o Cassiano veio ao meu encontro a ver como estava, mais à frente também se
encontrava o Sargento Chefe do meu trabalho que veio ver a prova e dar-me
algumas palavras de apoio e lá puxam por mim um pouco, digo o que se passou a
eles mas não querem saber, querem é que eu corra...lolol
Quase quase... |
O mister a dizer as suas palavras sábias. |
Perto do Areeiro também tinha o mister à minha espera, digo-lhe também o
que tinha acontecido, diz que já se tinha apercebido que alguma coisa tava mal,
informo que talvez já tinha perdido mais de meia hora nesta “brincadeira” mas
depressa ele diz-me que tinha perdido sim, mas foi 20m até ao ruivo e que
desses 20 dez já tinha recuperado nesta parte até ao Areeiro. Aqui diz-me mais
umas palavras daquelas de cumplicidade treinador/amigo/atleta de incentivo para
abordar o restante e a energia que faltava na cabeça (pois nas pernas já tinha
novamente) leva um boost e siga. Ponho-me rapidamente na casa do burro,
encontro novamente a mulher e amigos e saio de lá ainda mais com vontade.
O mister acompanha-me até à Ribeira e depois lá vou eu, rapidamente
ponho-me no Ribeiro Frio, desde a saída do último abastecimento até ao fim foi
sempre a apanhar pessoal da prova dos 40km a montes, desde já a dizer por todos
aqueles que passei foram impecáveis nas ultrapassagens, a eles o meu obrigado.
Nota: Gostei bastante desta secção final nova (comparada a que fiz em 2017)
até ao Ribeiro Frio, muito fixe mesmo.
Novamente a minha “claque” estava lá a puxar por mim e lá vou eu sempre a
somar minutos. Onde nos outros anos de prova do MIUT (85-115) tinha-me
acontecido a “travadinha” Ribeiro Frio - Poiso este ano estava “destravadinha”
e foi sempre em modo power por lá cima.
Atenção que quando digo power não pensem que vou a correr por lá cima
fresquinho e tal… Quero dizer que vou a subir bem, a passo e às vezes trote mas
que não sinto fraqueza, é isso que me refiro, esses tipos de power que pensam é
lá para a malta da frente. ;)
Ia "destravadinho" felizmente.
|
Poiso… Encho apenas a flask e siga, digo só um adeus rápido à mulher e
confirmo-lhe realmente que está tudo bem (ela sabe também o que passei ao
chegar nos outros anos aqui).
Ora bem, lá vamos nós até a Portela, foi sempre a lhe dar, a poupar pernas
ligeiramente na parte inicial da descida pois é mais técnica e depois deixar ir
nos estradões até ao último posto que estava nos meus planos.
Chego bem lá, tirando o joelho esquerdo que já estava a dar as últimas, o
mister pergunta-me se dava pra chegar ao fim eu digo que sim e então ele
(naquelas suas frases fantásticas) diz “pensas nisso amanhã que isso hoje é pra
acabar”.
Vou ao abastecimento digo ao Cassiano só para por dois géis e retirar tudo
o resto.
Manda-me pa cabeça (e ainda bem) para antes de sair levar um bocado de
spray na perna esquerda que faço-o e rapidamente e lá vou eu.
O mister acompanha-me até ao estradão da portela que leva às Funduras, diz
que venho bem e se aguentar esse trote até ao fim que era muito bom, digo-lhe
que não me importo de não passar mais ninguém, só gostava era que mais ninguém
dos 115 me passasse.
E ao dizer isto lá vou eu indo-me embora enquanto ele fica a ver eu
desaparecer.
Pois bem o que acontece 2m depois muda-me o restante da prova.
Ao rolar no tal estradão vejo um rapaz ao longe a passo e pareceu-me dos
115 e eu UAII!!! Queres ver…
Ao passar pelo mesmo confirmo a minha dúvida e mais ânimo deu-me (atenção
que não tou a querer o mal daquele atleta), pensei Cró se este vai aqui assim
talvez até ao fim ainda apanhes mais alguém, e foi o que fiz, puxei um pouco
mais por mim e rapidamente tou a chegar ao abastecimento do Larano com à minha
frente mais um dos 115, entro atrás do mesmo no abastecimento, ele vira para a
esquerda para trincar qualquer coisa e eu siga pa bingo, saída que já se faz
tarde.
Entro no Larano com o meu objetivo bem presente, trote com ele Cró, lá vou
eu todo contente pelo trilho sabendo que a energia que ainda tinha a rolar era
mais que suficiente para aquilo. Rapidamente apanho um comboio de malta dos 40
e no fim do mesmo ia o Nelson Vieira, encosto ao comboio, rápida troca de
palavras com ele e sigo eu que aquele trote não podia abrandar.
Até ao fim do Larano apanho ainda mais 2 atletas. Começa a descida até à
levada e ainda vejo outro dos 115 ao longe, por acaso olho pela primeira vez na
prova para o relógio e vejo 17h20!!!! Não podia acreditar, pensava na minha
cabeça que já deveria ser umas 19 devido ao clima meio nublado, mas que nitro
final aquilo veio dar-me, este atleta já custou um pouco mais a apanha-lo e só
consegui já na levada e ao fim de uns segundos de “luta” com o mesmo consegui
ir embora rapidamente pois já pensava era no tempo de chegada, até ao final
mantive a mesma passada só indo a passo no tapete da meta já com os meus
prémios finisher comigo. Ver toda a malta à minha espera para a conclusão da
prova mulher, pais, amigos, colegas de treino foi mesmo top que sensação de
alívio.
17H42M para cumprir 115km com 7200D+!!!!! Done!!!!
Um pequeno reparo malta.
Algumas pessoas antes da prova quando falava no objectivo das 17h diziam-me
que não era possível pois há dois anos tinha feito quase 21h e que era muita a
diferença.
Malta nunca liguem ao que outros dizem, pensem sempre que o caminho é para
a frente e que só tem que trabalhar para que as coisas apareçam, elas não caem
do céu. Ah e também uma pontinha de sorte é importante e se ela não
existir pelo menos então que não exista o azar, se me entendem.
Tanto paleio cansou-me bués mas é o que dá falar sobre 115km.
Obrigado a todos os que estiveram envolvidos nesta aventura de um homem, já
viram aquelas fotos de pódio de atletas em que só se vê a parte de cima mas as
pessoas esquecem-se quem e o que está atrás daquilo tudo?
É essas pessoas mesmo, pessoas fantásticas, verdadeiros amigos e colegas
que sem quererem nada em troca estão presentes para ajudar no que podem. E
dessas pessoas todas tem que sobressair uma, Tânia, obrigado por tudo, foste o
verdadeiro combustível para poder fazer o que fiz nesta prova, tudo o que levou
a este dia foi fruto também do teu trabalho, paciência e compreensão comigo...
Novamente obrigado a todos vocês.