sexta-feira, 10 de maio de 2019

MIUT 2019 - CRÓ Vs MIUT

Ora boas minhas máquinas de guerra!!!

Xiiii olha agora este gajo, há tanto tempo que na publica nada e agora que é o MIUT vem para aqui tentar escrever qualquer coisa e já tarde que já passou duas semanas…lolol 
Atenção que isto tem um monte paleio por aqui abaixo, por isso quem não tem pachorra de ler mais vale fechar logo a página…

É verdade malta, já há muito que não escrevia por aqui nada mas também que melhor prova para voltar a escrever que a prova rainha da nossa ilha o MADEIRA ISLAND ULTRA TRAIL. 
Devo confessar que das 4  provas internacionais que temos não é a minha favorita, o USM para mim tem qualquer coisa que mexe mais comigo mas, adiante.

Falando um pouco ligeiramente sobre esta grandiosa prova, a mesma é organizada pelo Clube de Montanha do Funchal, pertence ao Ultra-Trail® World Tour, tem 115km com 7200 d+ (na sua prova maior), começa em Porto Moniz acabando em Machico praticamente atravessando a ilha com uns empenos engraçados pelo meio da mesma para dar cabo de nós e além disso tudo é uma prova do CARAÇAS!!! que já há dois anos em que mal abre as inscrições é uma azáfama de malta a inscrever-se, este ano no mesmo dia em que abriram, fecharam!!!! Nas 4 provas!!! WTF!!! Foram precisas apenas 17 horas para isto acontecer. Pois é, esta prova e mesmo com a organização a tentar todos os anos aumentar ligeiramente o número de vagas a mesma esgota sempre e o que impressiona é que a estrangeirada quer vir cá toda!!!
Pois bem, agora falemos da minha pessoa nesta loucura que também começou no dia da inscrição da prova (já em Outubro 2018).
 A abertura das inscrições foram num dia em que tinha acabado de fazer uma prova de merda (desculpem o termo) onde nada tinha corrido como planeado (Ecotrail 85km), nem sei se até foi isto que me deu a força necessária para seguir, mas visto que tava com aquela adrenalina a correr nas veias inscrevo-me na maldita.
E a partir daí começa a luta... Vá, não começa aí a sério, serio... 
Os treinos mais específicos só começaram para esta prova já em 2019 (e ainda bem) mas lá está, o restante tempo de treino também não pode ser descurado sendo também muito importante.
Conversei com o mister e disse que gostava de fazer aquilo em 17h, achei que era capaz e que estaria dentro dos meus limites, ele concordou também e siga pra frente. 

Agora até  27 de Abril é treinar...

Esta é a parte mais foleira e mais dura em todos os sentidos. A prova? A prova é "peanuts" comparado com tudo o que passas até lá. 
Treinar, treinar e treinar, digo isto, e não pensem que era uma coisa do outro mundo, não, o problema é que para além de treinar, existe a vida pessoal (com mulher e dois filhos) e a vida profissional e tudo tem que ser bem conjugado para conseguir funcionar minimamente principalmente na parte da vida pessoal, os nossos entes mais queridos às vezes tem que sacrificar um pouco da vida deles para nós podermos fazer qualquer coisa. 
E depois é o resto de pequenos contratempos que surgem à maior parte de nós, pequenas/grandes lesões, dias em que por mais que te esforces não existe mesmo vaga para treinar e desejas que o dia tivesse 25h, o clima, entre outras tantas.
As últimas semanas são um desespero, desejando que chegue o mais rapidamente à prova, não por ter aquela vontade de começar mas sim pelo facto de saber que os treinos acabaram. hehehe 

Bom e lá chega o tão almejado dia, saio de serviço às 09h00 e venho para casa acabar de preparar tudo o que faltava, ainda deu para descansar um cadito à tarde.
Chega a hora da verdade e eu por volta das 23 já tava no Porto Moniz pronto para a loucura. Ventinho do caraças (outra palavra dita no momento) penso eu mal saio do carro. Encontro-me com o meu primo Décio que também iria fazer a prova e com a minha equipa de apoio/assistência, as Galinhas (Filipe e Cassiano), fotos pá aqui e pá acolá para mais tarde recordar e bora pá caixa.

Foto da praxe
Da Esq. para a Dir: Manuel Faria, Eu, Sidónio Freitas, Décio Carreira, Valter Viveiros, Cassiano Figueira.
Encontro muita malta amiga, desejamo-nos boa sorte uns aos outros e siga.
00:00 e lá arrancamos, tento chegar o mais rapidamente possível à parte da frente da corrida, isto era muito importante, pois ao perder muito tempo aqui a descer para a ribeira da janela não daria para ultrapassar.
A primeira parte da subida antes de começarmos a descer para a Ribeira da Janela, pelo menos aqueles 200/300m iniciais foram nostálgicos, corri praticamente lado a lado com alguns dos melhores do mundo, niiiccceee…

Descida para a Ribeira da Janela, ainda não tinha começado a descer e já se ouve as pessoas lá embaixo na euforia, é a zona da loucura, depressa já tou na ribeira e começo a passar por aquele "túnel" de pessoal, top, vou cumprimentando as pessoas à medida que passo mas tudo o que é bom acaba depressa e esta era a parte boa do MIUT, de 17h42m de prova que tive, foram 5m bons agora já só falta o resto, não vamos dizer mau, menos bom vá… Lolol

Toca a subir até ao Fanal, subida rápida e certinha até lá acima sem perder muito tempo pois abrandar muito com o fresquinho que tava na era opção.
Primeira grande descida da prova e alteração do percurso, descida do caminho das voltas, na minha opinião foi uma alteração para pior, descida mais longa, parecia que nunca mais chegava lá abaixo para depois ainda ter que rolar naquele alcatrão.

Aqui paro no abastecimento encho a flask, como qualquer coisa e arranco para a subida do empeno, sinceramente não tava a espera já aqui de apanhar a 1a dificuldade, princípios de cãibras na perna esquerda… 🤔 estranho, tinha tratado bem desta situação no pré-prova mas pronto nada a fazer, reduzi a abertura da passada e siga, tá claro que fez-me perder um bocado de tempo mas assim consegui chegar mais solto à parte do estradão que ainda é preciso fazer aos estanquinhos e aqui pude rolar até lá.

Estanquinhos… Rapidamente vou ter com o Cassiano, assistência rápida, aqui bebo também um cadito de café para aquecer o corpo (bem que não sentia muito frio), e lá vou eu novamente embora estradão abaixo, em muito do estradão e nem com a lanterna no mínimo via a ponta de um corno, nevoeiro serrado mesmo, nunca pensei em ter que abrandar em corrida por causa de nevoeiro. Entro no trilho e rapidamente apanho um atleta que a descer ia um pouco mais receoso e quando dou por mim já estou a descer a escadaria do PR17, aí apanho um tuga (Pedro Rocha) que depois da prova vim a saber que era primo de um camarada de serviço meu quando estive no continente, o mundo é pequeno ;).
Fui com este companheiro até ao abastecimento do Rosário, aqui foi sempre a despachar que queria era chegar à Encumeada, atenção para quem não conhece esta secção da prova não pense que a mesma é fácil… Depois de rolar um bocado em estradão ainda é preciso subir escadas e mais escadas para chegar à Encumeada.
Mesmo assim ainda sou passado por dois nessa subida, esta estrangeirada tem cá um power.

Uh! uh! abastecimento da encumeada, chego lá ainda a amanhecer, sentia-me bem, as câimbras já não chateavam portanto tudo nice. Novamente sempre rápido o abastecimento, e siga, esta secção é para mim a que gosto menos do MIUT, primeiramente pela subida do túnel depois apanhar aquela secção toda rolante com sobe e desce, voltar a fazer uma subida infernal até às relvinhas para depois fazer uma descida técnica, inclinada e dura até ao Curral. Acho esta secção uma “parte canelas do caraças”. E isso viu-se no tempo que demorei a fazê-la, aqui ainda sou passado novamente por alguns atletas mas lá consegui enfrentar aquele demónio.

Dois dos meus 3 amores à minha espera.

Ao começar a descida para o curral o sol já se fazia notar e já mostrava que ia ser uma manhã bem quentinha. Chegado ao curral foi onde tive o abastecimento mais longo, sentei-me um cadito pela primeira vez, tiro roupa a montes, bebo muita água e como uma taçada de arroz.

Agora seria a doer, saio do abastecimento com o colega de prova Nelson Vieira, na parte exterior do abastecimento para além do mister tinha a mulher e filhota com amigos à espera. Sobem comigo a zona do pavilhão, falo um pouco com cada um deles, beijinho à Tânia, digo que estou bem e lá vou eu.
O mister diz-me para ir com o Nelson pois esta secção era mais fácil ir a dois.
E lá fomos nós, conversamos um pouco sobre a prova de cada um, disse-lhe que ia guardar um cadito de energia para o Larano para fazer aquilo a trote entre outras coisas... 1km depois de entrarmos já no trilho que nos levava ao Pico Ruivo, aí abrando um pouco, digo ao Nelson pa passar pois ia trincar algo e aí passado uns segundos… POW!!! Levo como que uma parede em cima, o corpo do nada fica sem energia, o Nelson rapidamente desaparece a subir, tento ainda fazer um esforço e nada, não tinha mesmo energia nenhuma, até levantar os braços para trabalhar com os bastões custava, as pernas de repente começaram a doer e eu a pensar bom Cró já foste!!!
Lá vou eu subindo mais um pouco e vejo o Bruno Dantas a descer, pergunto se tava tudo bem e ele diz-me que não era o dia dele, acontece.
Bom, eu vendo isto e estando como estava pensei para mim será que também não era o meu dia? Naquela situação e se a mesma se mantivesse ir até Machico assim ia ser um martírio. Mas já que estava ali para trás não vou!! Tinha decidido que ia ver como o corpo se comportava até ao Ruivo a ver se a situação se mantinha e então depois decidia melhor o que fazer. E lá fui eu, que subida mais penosa, mesmo depois chegando à parte mais rolante não ia, nem a descer se conseguia fazer trote, entretanto apanho o Jorge Louro em sentido contrário, vinha a apoiar a malta e a treinar, dá-me umas palavras de incentivo e diz que tou nos 10 melhores tugas, digo-lhe que tá mau e muito mau mesmo e lá continuo.

Aqui ia no tal modo K.O. quando o Jorge Louro cruzou-se comigo.
Mais à frente disse para o meu “Tico e Teco” bem Cró, ou vai ou racha, perdido por 100 perdido por 1000, pego numa ampola de  magnésio, brufen, um gel e bumba tudo de uma vez goela abaixo, e bebo meia flask de água de seguida para empurrar. Ou isto vai dar um boost ou então estoira de vez... Ou então, ia dar no cu…!!!! Ahahaha
E não é que passado 10m parece que as coisas começam a compor-se, já começo na subida final para o Ruivo com mais energia. Chego lá já quase bem, mas triste pois os objectivos a que me tinha proposto não iriam provavelmente ser cumpridos. Saio do abastecimento contente por ter visto caras amigas, não fosse ele “comandado” pela amiga Marlene mas também lá estava os seus irmãos como voluntários.

Saio de lá pronto para atacar bem depressa esta secção e lá vou eu, entre o Ruivo e o Areeiro, é o trilho mais maluco que se pode passar na prova, constante sobe e desce com paisagens de cortar a respiração desde que esteja bom tempo, no dia de prova não houve tempo para olhar para nada, tava como os burros quando levam aquelas palas para olhar só para a frente…
No fim da grande subida para o areeiro tava o Cassiano à espera para vir puxar por mim, o Marco (irmão da Marlene) que estava no abastecimento do Ruivo tinha ligado para ele a dizer que não tinha saído muito bem de lá e então o Cassiano veio ao meu encontro a ver como estava, mais à frente também se encontrava o Sargento Chefe do meu trabalho que veio ver a prova e dar-me algumas palavras de apoio e lá puxam por mim um pouco, digo o que se passou a eles mas não querem saber, querem é que eu corra...lolol

Quase quase...

O mister a dizer as suas palavras sábias.
Perto do Areeiro também tinha o mister à minha espera, digo-lhe também o que tinha acontecido, diz que já se tinha apercebido que alguma coisa tava mal, informo que talvez já tinha perdido mais de meia hora nesta “brincadeira” mas depressa ele diz-me que tinha perdido sim, mas foi 20m até ao ruivo e que desses 20 dez já tinha recuperado nesta parte até ao Areeiro. Aqui diz-me mais umas palavras daquelas de cumplicidade treinador/amigo/atleta de incentivo para abordar o restante e a energia que faltava na cabeça (pois nas pernas já tinha novamente) leva um boost e siga. Ponho-me rapidamente na casa do burro, encontro novamente a mulher e amigos e saio de lá ainda mais com vontade. 
Goela abaixo

O mister acompanha-me até à Ribeira e depois lá vou eu, rapidamente ponho-me no Ribeiro Frio, desde a saída do último abastecimento até ao fim foi sempre a apanhar pessoal da prova dos 40km a montes, desde já a dizer por todos aqueles que passei foram impecáveis nas ultrapassagens, a eles o meu obrigado.
Nota: Gostei bastante desta secção final nova (comparada a que fiz em 2017) até ao Ribeiro Frio, muito fixe mesmo.
Novamente a minha “claque” estava lá a puxar por mim e lá vou eu sempre a somar minutos. Onde nos outros anos de prova do MIUT (85-115) tinha-me acontecido a “travadinha” Ribeiro Frio - Poiso este ano estava “destravadinha” e foi sempre em modo power por lá cima.
Atenção que quando digo power não pensem que vou a correr por lá cima fresquinho e tal… Quero dizer que vou a subir bem, a passo e às vezes trote mas que não sinto fraqueza, é isso que me refiro, esses tipos de power que pensam é lá para a malta da frente. ;)

Ia "destravadinho" felizmente.

Poiso… Encho apenas a flask e siga, digo só um adeus rápido à mulher e confirmo-lhe realmente que está tudo bem (ela sabe também o que passei ao chegar nos outros anos aqui).
Ora bem, lá vamos nós até a Portela, foi sempre a lhe dar, a poupar pernas ligeiramente na parte inicial da descida pois é mais técnica e depois deixar ir nos estradões até ao último posto que estava nos meus planos.
Chego bem lá, tirando o joelho esquerdo que já estava a dar as últimas, o mister pergunta-me se dava pra chegar ao fim eu digo que sim e então ele (naquelas suas frases fantásticas) diz “pensas nisso amanhã que isso hoje é pra acabar”.
Vou ao abastecimento digo ao Cassiano só para por dois géis e retirar tudo o resto.
Manda-me pa cabeça (e ainda bem) para antes de sair levar um bocado de spray na perna esquerda que faço-o e rapidamente e lá vou eu.
O mister acompanha-me até ao estradão da portela que leva às Funduras, diz que venho bem e se aguentar esse trote até ao fim que era muito bom, digo-lhe que não me importo de não passar mais ninguém, só gostava era que mais ninguém dos 115 me passasse.
E ao dizer isto lá vou eu indo-me embora enquanto ele fica a ver eu desaparecer.
Pois bem o que acontece 2m depois muda-me o restante da prova.
Ao rolar no tal estradão vejo um rapaz ao longe a passo e pareceu-me dos 115 e eu UAII!!! Queres ver…
Ao passar pelo mesmo confirmo a minha dúvida e mais ânimo deu-me (atenção que não tou a querer o mal daquele atleta), pensei Cró se este vai aqui assim talvez até ao fim ainda apanhes mais alguém, e foi o que fiz, puxei um pouco mais por mim e rapidamente tou a chegar ao abastecimento do Larano com à minha frente mais um dos 115, entro atrás do mesmo no abastecimento, ele vira para a esquerda para trincar qualquer coisa e eu siga pa bingo, saída que já se faz tarde.
Entro no Larano com o meu objetivo bem presente, trote com ele Cró, lá vou eu todo contente pelo trilho sabendo que a energia que ainda tinha a rolar era mais que suficiente para aquilo. Rapidamente apanho um comboio de malta dos 40 e no fim do mesmo ia o Nelson Vieira, encosto ao comboio, rápida troca de palavras com ele e sigo eu que aquele trote não podia abrandar.

Até ao fim do Larano apanho ainda mais 2 atletas. Começa a descida até à levada e ainda vejo outro dos 115 ao longe, por acaso olho pela primeira vez na prova para o relógio e vejo 17h20!!!! Não podia acreditar, pensava na minha cabeça que já deveria ser umas 19 devido ao clima meio nublado, mas que nitro final aquilo veio dar-me, este atleta já custou um pouco mais a apanha-lo e só consegui já na levada e ao fim de uns segundos de “luta” com o mesmo consegui ir embora rapidamente pois já pensava era no tempo de chegada, até ao final mantive a mesma passada só indo a passo no tapete da meta já com os meus prémios finisher comigo. Ver toda a malta à minha espera para a conclusão da prova mulher, pais, amigos, colegas de treino foi mesmo top que sensação de alívio.
A esperada chegada
A meta e os meus prémios finisher.
Finisher!!!

17H42M para cumprir 115km com 7200D+!!!!! Done!!!!

Um pequeno reparo malta.
Algumas pessoas antes da prova quando falava no objectivo das 17h diziam-me que não era possível pois há dois anos tinha feito quase 21h e que era muita a diferença.
Malta nunca liguem ao que outros dizem, pensem sempre que o caminho é para a frente e que só tem que trabalhar para que as coisas apareçam, elas não caem do céu. Ah e também uma pontinha de sorte é  importante e se ela não existir pelo menos então que não exista o azar, se me entendem.

Tanto paleio cansou-me bués mas é o que dá falar sobre 115km.
Obrigado a todos os que estiveram envolvidos nesta aventura de um homem, já viram aquelas fotos de pódio de atletas em que só se vê a parte de cima mas as pessoas esquecem-se quem e o que está atrás daquilo tudo?


É essas pessoas mesmo, pessoas fantásticas, verdadeiros amigos e colegas que sem quererem nada em troca estão presentes para ajudar no que podem. E dessas pessoas todas tem que sobressair uma, Tânia, obrigado por tudo, foste o verdadeiro combustível para poder fazer o que fiz nesta prova, tudo o que levou a este dia foi fruto também do teu trabalho, paciência e compreensão comigo...

Novamente obrigado a todos vocês.